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2025
BRASIL – GRAVÍSSIMO: “Abin paralela do governo Bolsonaro” tentou criar história falsa e ligar ICL a crime inexistente
Por Cleber Lourenço
A estrutura clandestina de inteligência que operava no interior da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) durante o governo Bolsonaro utilizou recursos públicos e ferramentas intrusivas para fabricar falsos vínculos fraudulentos entre o Instituto Conhecimento Liberta (ICL) e supostos desvios de verbas federais. O alvo da operação foi o jornalista Leandro Demori, que seria a ponte entre o ICL e a EBC (Empresa Brasileira de Comunicação), conforme documentos oficiais e trocas de mensagens obtidas pela Polícia Federal.
De acordo com o relatório final do inquérito 2023.0022161, os agentes Daniel Ribeiro Lemos e Richards Pozzer participaram de uma ação deliberada para “amadurecer” uma peça de desinformação que relacionava contratos da EDC (na verdade se referiam à EBC) com o ingresso de Demori no ICL.
A tática foi registrada em mensagens extraídas de conversas do WhatsApp ocorridas em junho de 2024 no âmbito da investigação. Em uma delas, o agente afirma: “Vou terminar o relatório do ICL. Se a data do contrato da EDC com o Demori e o ingresso do Demori na sociedade do ICL bater… é apresentado um indício de desvio de recurso federal para o ICL.”
Como é de conhecimento público, o jornalista integra a equipe do ICL e também apresenta um programa de entrevistas na TV Brasil, do grupo EBC.
Não há, no entanto, qualquer evidência concreta de ilicitude. Os dados do sistema de espionagem First Mile — também utilizado ilegalmente contra Demori — não conseguiram sequer identificar informações de rede vinculadas a seu número de telefone. Ainda assim, a narrativa foi alimentada por relatórios e documentos internos com o objetivo de associar o ICL a uma organização suspeita de desvio de recursos públicos.
Desinformação sobre o ICL
Segundo o relatório da PF, houve erro na associação do número telefônico do jornalista, que constava em nome de outra pessoa, invalidando qualquer evidência técnica. Apesar disso, os operadores do esquema seguiram produzindo desinformação sobre sua atuação profissional, acusando-o de envolvimento em esquema de financiamento cruzado entre entidades civis e contratos públicos.
A inclusão do ICL no contexto da suposta “investigação” evidencia a tentativa de incriminar uma entidade civil por meio da manipulação de dados e da construção artificial de vínculos com recursos públicos. A produção das narrativas foi tão sistemática que há registro de tensionamentos entre os próprios agentes da ABIN paralela: “Não dá pra jogar tudo assim para nossos grupos, Richards”, reclamou Daniel Lemos, preocupado com o excesso de informações falsas circulando sem coordenação.
O nome de Leandro Demori aparece vinculado a outras vítimas de monitoramento, como Jean Wyllys e David Miranda. A ação, conforme os investigadores, partia diretamente do núcleo da estrutura clandestina montada dentro da ABIN, sob comando de Alexandre Ramagem, e tinha como objetivo neutralizar vozes críticas ao governo por meio de espionagem e produção de material difamatório.
O caso demonstra um dos aspectos mais graves da atuação da estrutura paralela de inteligência: a transformação de agentes e ferramentas do Estado em instrumentos de perseguição política e sabotagem institucional, com uso de tecnologias de espionagem voltadas contra jornalistas, organizações da sociedade civil e adversários ideológicos.
Fonte: ICL Notícias.