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2017
CEARÁ – POLÍTICA: Além da JBS, outras empresas receberam recursos do governo Cid Gomes e fizeram doação para campanha.
Um levantamento da TV Jangadeiro apurou que em 2014, durante o governo de Cid Gomes, além da Cascavel Couros, do grupo JBS, outras três empresas receberam créditos do Fundo de Desenvolvimento Industrial (FDI) e, pouco depois, também doaram valores altos para a campanha eleitoral do sucessor de Cid Gomes.
Uma dessas empresas foi a Grendene, que tem unidade em Sobral, berço político dos irmãos Cid e Ciro Gomes. Em 2014, o Estado liberou pagamentos de cerca de R$ 90 milhões à Grendene através do FDI.
Durante a campanha de Camilo Santana ao Governo do Estado, que era apoiado por Cid Gomes, a Grendene fez uma doação eleitoral de R$ 1 milhão.
Um dos donos da empresa, Alexandre Grendene Barteli, também contribuiu. Deu R$ 269 mil. E Pedro Grendene Barteli, irmão de Alexandre, fez algumas super contribuições que passaram dos R$ 2.690 milhões. A Paquetá Calçados, que recebeu através do FDI mais de R$ 37 milhões, doou R$ 3.735 milhões à campanha. Já a empresa Bermas Maracanaú, do setor de couros, doou R$ 990.500 mil e teve repasses de R$ 14.771 milhões do FDI.
Para atrair grandes indústrias, o Estado pode conceder incentivos e benefícios. Uma das alternativas é a devolução do ICMS pago pelas empresas.
O empresário Wesley Batista, do grupo JBS, que é investigado pela operação Lava Jato, revelou que doou R$ 20 milhões para a campanha de Camilo Santana. Dez milhões de forma oficial e o restante por fora, através de notas frias.
Segundo ele, o pedido foi feito por Cid Gomes. Depois, Arialdo Pinho e Antonio Balman, que foram secretários de Cid e permanecem no atual governo, teriam intermediado as negociações. Em troca, o grupo teria recebido via FDI 110 milhões que o Estado devia em créditos de ICMS.
A TV Jangadeiro apurou que, em 2014, ano eleitoral, o FDI teve movimentação bem acima da média de outros anos. Naquele ano, o governo fez notas de empenho que totalizaram R$ 259 milhões. No ano seguinte, 2015, que não é calendário eleitoral, não houve nenhum pagamento. Em 2016, outro ano de eleições, o estado pagou R$ 71 milhões.
Em 2017, até agora, foram R$ 4,5 milhões. A possível relação entre pagamentos de créditos via FDI e contribuições eleitorais chama atenção quando se analisa este outro dado: em 2014, o estado pagou 31 notas de empenho a empresas via FDI. Dessas 31 notas, 29 foram emitidas somente no segundo semestre, mais próximo do mês das eleições, que acontecem em outubro.
Na Assembleia Legislativa do Ceará, o assunto domina os pronunciamentos e as rodas de conversas dos deputados. “Existe uma auditoria no Tribunal de Contas do Estado onde a auditoria afirma categoricamente que o aumento de devolução do ICMS e dos incentivos do FDI de 2013 para 2014 foi de 250% e que 97% desses valores pagos foram unicamente para cinco empresas”, disse o deputado estadual Leonardo Araújo (PMDB).
Os parlamentares que fazem oposição ao governo são taxativos ao dizer que as revelações são evidências claras de pagamento de propina. “Nem tudo que é legal é lícito. Fica uma evidência de que foi uma doação legal, mas condicionado ao pagamento do governo. Eles estão tentando fazer o financiamento público de campanha a força. Isso é propina”, afirmou o deputado estadual Carlos Matos (PSDB).
Já a base aliada garante que os pagamentos das devoluções do ICMS só foram maiores em 2014 por causa da lei de responsabilidade fiscal. Dr Sarto (PDT) defende que o governo estava se encerrando e tinha que pagar sua dívida. “Se não quitasse tinha que deixar recurso em caixa com o devido empenho para ser pago posteriormente”.
O suposto pedido de doação da JBS pelo ex governador Cid Gomes também foi negado pela base. “Não tem uma consistência maior para incriminar qualquer ato do ex-governador Cid Gomes. Já houve também uma realização de doações, ainda em 2006, quando Cid Gomes era candidato de oposição ao governo do estado”, disse Sergio Aguiar (PDT).
Fonte: Tribuna do Ceará.