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2012
A poupança mudou. O que isso mexe com seu bolso?
O governo anunciou as esperadas mudanças na regra da caderneta de poupança. E o que isso significa para o seu bolso? Em primeiro lugar, significa que o brasileiro vai ter de se acostumar a taxas de juros mais reais, a remunerações menos espetaculares para o seu dinheiro. Espetaculares? Sim… Como lembra o economista Luiz Calado, autor do livro Fundos de Investimento, o americano nem em sonho recebe 6% ao ano para o que investe. “Com sorte, recebe 1% ao ano, para aplicações longas e com a inflação, o rendimento chega a ficar negativo”, lembra Calado.
Desse modo, o brasileiro terá que se acostumar a receber remunerações mais condizentes com aquelas pagas no mundo todo. E, se quiser receber mais, terá de aprender a arriscar mais, a suportar mais risco, como a Bolsa ou investimentos mais sofisticados.
Para o feijão-com-arroz, a poupança deve continuar a ser a estrela.
O que mudou?
Pela regra antiga, a poupança assegurava um rendimento de 6% ao ano (0,5% ao mês), mais a Taxa Referencial, a TR. Sobre a poupança não incidia o Imposto de Renda (que nas aplicações financeiras varia de 15% a 22,5%), nem IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) nem qualquer tipo de taxa de administração ou carregamento.
Pela regra nova, válida a partir desta sexta-feira, 4, a remuneração da caderneta de poupança passará a ser atrelada à Taxa Selic, que é a taxa básica de juros da economia brasileira. A poupança continua livre de IR.
A mudança na regra é vista como “absolutamente necessária” pelos economistas com quem conversei. Sem essa mudança, não havia como baixar a taxa de juros, já que a remuneração fixa da poupança iria atrair os investidores para essa aplicação, o que colocava em risco o próprio financiamento do governo.
Como isso ocorre? O governo emite títulos da dívida pública para financiar seus gastos. Esses títulos são comprados pelos fundos e também são negociados no Tesouro Direto. Se os fundos, com suas taxas de administração, incidência de IR e IOF, têm sua rentabilidade prejudicada pela queda na taxa básica de juros e sofrem concorrência direta da poupança (que mantinha a remuneração de 6% ao ano mais TR), esses fundos perderiam aplicações, o que faria com que, em última análise, o governo perdesse seus financiadores.
Pelas contas de Luiz Calado, com a Selic a 9% ao ano, os fundos com taxa de administração de 1,5% ao ano já estavam perdendo para a poupança. “Já estava havendo migração dos fundos para a poupança”.
Para o professor de Finanças da FEA-USP Rafael Paschoarelli, “o governo foi habilidoso e a solução encontrada foi boa e inteligente”.
A poupança continuará a ser atrativa?
Ambos os economistas acreditam que a poupança continuará a ser um investimento atraente para quem tem poucos recursos.
O professor de Finanças da Fiap Marcos Crivelaro resume: “quem não tem muito dinheiro não tem para onde correr”.
Crivelaro acredita que os bancos deverão oferecer alternativas mais rentáveis a quem tem poucos recursos, contanto que estes deixem o dinheiro parado mais tempo.
E o financiamento imobiliário?
Grande parte dos financiamentos imobiliários é financiada com recursos da poupança. Poupança rendia 6% +TR, financiamento cobrava o mesmo. Agora, com a nova regra, há um descasamento que ainda não ficou claro como será ajustado. “Acho que o governo vai pensar nisso amanhã”, brinca Paschoarelli.
Para Luiz Calado, não há que se temer uma fuga da poupança, já que sempre a poupança rendeu menos que os fundos. “Era muito pior se o governo perdesse seu financiamento”, diz.
Fonte: Sofia Camargo é colunista do R7.