CEARÁ – Ceará figura entre os cinco estados que mais matam mulheres trans

Postado por Bené Fernandes    Sem Comentários

O estado do Ceará está entre os cinco estados que mais matam mulheres trans no Brasil desde 2017. Presente nas listas de Unidades Federativas (UFs) com mais assassinatos de mulheres trans há pelo menos sete anos, o estado cearense não aparece em uma colocação abaixo do quarto lugar. Os números de 2024 apontam também que o Ceará é o primeiro do Nordeste e terceiro do Brasil que mais têm mulheres trans mortas. Os dados são do Dossiê Assassinatos e Violências Contra Travestis e Transexuais Brasileiras, produzido pela Associação Nacional de Travestis e Transsexuais (Antra) e publicado no fim de janeiro de 2025.

Os resultados detalhados de 2017, ano da primeira publicação do dossiê, apresentam o Ceará como segundo do Nordeste com mais mortes de mulheres trans em 2017. Quarto lugar em 2018, entre todos do Brasil. Em 2019 e 2020 o estado cearense ficou em segundo lugar em ambos, com o dobro de assassinatos entre um ano e outro. Em 2021, o Ceará reaparece em quarto lugar. E de 2022 a 2024 se manteve em terceiro lugar com mais assassinatos a vítimas desse público.

O documento também aponta que, no ranking geral em números absolutos de mortes por assassinato de mulheres trans, o Ceará aparece em 2º lugar, com 107 assassinatos. O estado de São Paulo ocupa a 1ª posição com 151 casos registrados. Bahia (97), Rio de Janeiro (93) e Minas Gerais (92) preenchem as outras colocações consecutivamente.

Políticas públicas

Os números no Ceará levantam o questionamento a respeito de políticas públicas voltadas à população LGBTQIAPN+ no Estado. Atualmente, o poder Executivo Estadual conta com o Centro Estadual de Referência LGBT+ Thina Rodrigues (CERLGBT+), fundado em 2021. De acordo com dados disponibilizados pela Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social do Ceará (SSPDS-CE), 4.033 atendimentos foram feitos de janeiro de 2023 até dezembro de 2024, do total 80% foram direcionados a 1.106 pessoas trans.

De acordo com Silvinha Cavalleire, presidente nacional da União Nacional LGBT (Unalgbt) Brasil, e ex-coordenadora do CERLGBT+), as mortes de mulheres trans estão naturalmente ligadas à marginalização e falta de oportunidades no mercado formal de trabalho. A dirigente, contudo, faz a ressalva que é preciso discutir a permanência dessas mulheres nos empregos.
“Nós mulheres trans e travestis, imaginamos o quanto é importante ter acesso ao mercado de trabalho, mas não apenas o acesso. A discussão da permanência também deve estar na ordem do dia, porque muitas das nossas que conseguem ter oportunidades, não tem duração conta da transfobia e falta de apoio institucional”.

A promoção de um calendário estadual oficial LGBTI+, bem como ações de combate à fome e insegurança alimentar dessa população e a emissão de carteira de identidade com nome social para pessoas trans, são algumas das atividades já desenvolvidas pelo governo do Ceará para combate aos índices de violência contra essa população. A recém-empossada secretária das Mulheres, Lia Gomes, afirma que há em seu mandato um planejamento de ações que contemplem mulheres trans e pessoas LGBTIAPN+.

“Desde a fundação do CERLGBT+, quando estive à frente, falo que o foco principal das políticas públicas para essas pessoas deve ser as mulheres trans. Isso se dá pelos resultados de violência que essas mulheres sofrem. A gente precisa perceber que, como sociedade, às vezes nós mesmos, quando não damos oportunidades, empurramos as mulheres trans para a marginalização. Meu mandato na secretaria da mulher deve sim ter uma agenda voltada para o cuidado específico desse público”.

Por Hyago Felix (estagiário sob supervisão de editores)

Fonte: O Estado CE