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2021
CEARÁ -OPINIÃO| Ciro, Cid e a Polícia Federal: Suspeitas tão graves, mas elementos parecem frágeis para a dimensão da operação Colosseum.
A licitação para a reforma do Castelão para a Copa do Mundo de 2014 foi envolvida em suspeitas desde o início. Pagar propina para obter contratos públicos é uma prática absurdamente repetitiva. Se houver elementos para provar que isso foi feito pelo senador Cid Gomes (PDT) e o irmão dele, ex-governador Ciro Gomes (PDT), é algo que merece punição exemplar. E tem potencial de dano irreparável para o grupo que detém hegemonia absoluta na política do Ceará.
Contudo, os elementos apontados na decisão do juiz Danilo Dias Vasconcelos de Almeida me parecem insuficientes para operação de tantas consequências políticas, contra um senador e um pré-candidato a presidente. Medida dessa dimensão, parece-me, demandaria elementos mais consistentes.
É muito ruim que a postura do governo Jair Bolsonaro leve a tantas suspeitas de uso da máquina para propósitos políticos. A falta de institucionalidade gera desconfiança. Quem é mais atingido é a Polícia Federal. Obviamente que ninguém deve deixar de ser investigado por ser adversário do governo. Mas, é dada munição aos investigados, que se valem do argumento de que estão sendo perseguidos politicamente. Houvesse outra postura do governo, isso seria rechaçado, mas, na atual conjuntura, essa argumentação ganha plausibilidade.
Castelão foi exceção
Em 7 de maio de 2011, escrevi a respeito dos preparativos para a Copa do Mundo: “Maior espetáculo da Terra pode virar a maior roubalheira do Brasil”. O raciocínio era simples: estava em curso o maior programa de obras da história brasileira. A oportunidade para desviar era sem precedentes.
A farra de corrupção ocorreu, de fato. No Distrito Federal, os ex-governadores José Roberto Arruda (PR) e Agnelo Queiroz (PT) e o ex-vice-governador Tadeu Filippelli foram presos por acusações envolvendo as obras do estádio Mané Garrincha. No Rio de Janeiro, o ex-governador Sergio Cabral foi preso por denúncias relacionadas às obras do Maracanã. Empreiteiros também foram presos.
O Maracanã tinha previsão de custar R$ 700 milhões e saiu por R$ 1,2 bilhão. O Mané Garrincha custaria R$ 670 milhões e saiu por algo em torno de R$ 1,5 bilhão. O Castelão, porém, teve história diferente. Tinha previsão de sair por R$ 617 milhões, mas foi mais barato: R$ 518,6 milhões. E, enquanto os prazos em regra não foram cumpridos na maioria dos estádios, o Castelão ficou pronto antes do previsto.
Isso não exclui a possibilidade de ter havido crime, direcionamento de licitação. Para isso ter ocorrido, seria necessário um nível muito grande de organização. A Polícia Federal menciona R$ 11 milhões em propina. Numa obra de mais de meio bilhão, é algo possível, teoricamente, de ser camuflado. Todavia, seria necessário que já estivesse embutido no preço previsto inicialmente, seguir o projeto à risca. E fazer uma obra mais barata que as outras, para comportar esses pagamentos extras. E cumprir prazos de forma rigorosa. Não é o padrão dos escândalos da Copa.
Licitação teve polêmica, pedido de CPI, briga judicial e surpresa
A licitação para reforma do Castelão foi atribulada. O consórcio Arena Multiuso Castelão, formado pelas empresas Galvão Engenharia S/A, Serveng Civilsan S/A e BWA Tecnologia de Informação LTDA saiu vencedor, o que foi certa surpresa. Segunda colocada, a Marquise contestou o resultado na Justiça e chegou a obter liminar suspendendo a licitação.
O deputado estadual Heitor Férrer (Solidariedade) chegou a reunir assinaturas para instalação de uma CPI sobre o Castelão na Assembleia Legislativa. Curiosamente, na época, a acusação era de que a Marquise seria favorecida. Cid Gomes, governador na época, acusou a oposição de “maledicência”. Porém, antes de a CPI ser protocolada, deputados governistas apresentaram na frente pedidos de CPI. Só duas podem funcionar ao mesmo tempo, a CPI do Castelão foi barrada.
A Galvão Engenharia foi a empreiteira de muitas das grandes obras no Ceará naquele período. Além do Castelão, construiu o Centro de Eventos e o Centro de Formação Olímpica do Nordeste.
Colunista Érico Firmo/OPOVO