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2021
BRASIL – Mulheres figuram na linha de frente do combate à covid-19
A história da pandemia da covid-19 no Brasil trouxe consigo muitos heróis e vilões. Mas, diferente do que é visto no cinema, os personagens principais dessa história se tratam de pessoas.
A linha de frente do combate a essa doença é composta por profissionais da saúde que tentam todos os dias superar seus limites para cuidar do próximo. Boa parte desses profissionais são mulheres. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), as mulheres correspondem a 90% das equipes de enfermagem do mundo.
Quem vive isso na pele relata as nuances de estar enfrentando a maior crise de saúde pública da história do Brasil. A enfermeira Emilly Araújo, de 23 anos, que trabalha diretamente nos leitos de Unidade de Terapia de Intensiva (UTI) relata a desafiante realidade dos plantões enfrentados por ela.
“Minha experiência com o covid-19, na primeira onda foi assustador, senti muito medo, pois estava na linha de frente e vi muitos colegas de trabalho sendo contagiados e até mesmo morrendo. Graças a Deus eu não fui contaminada com o vírus. Nunca imaginei passar por tudo isso que estamos passando, plantões cansativos, exaustivos, estressantes. Em inumeráveis vezes choro com dores no corpo por um plantão puxado de não poder beber água, comer ou sentar direito porque temos que dar conta do plantão”, afirma.
Emily diz que a sensação é de aflição por passar pela mesma situação de 2020. “O sentimento é de que estamos voltando ao início de tudo, vendo os casos aumentarem, abrindo mais leitos de UTI. O mais desesperador é ter que ficar longe de amigos, familiares. Eu tenho uma filha de 4 anos e tenho que ficar longe dela, pois eu não iria me perdoar se contaminasse ela ou alguém da minha família”, conta
Apesar de tudo, para a enfermeira, quando um paciente é salvo, ela se sente vitoriosa. “Esse vírus está sendo desafiador para muitas pessoas, eu prefiro me sentir como vitoriosa em meio disso tudo, principalmente quando algum paciente nosso recebe alta e sai bem. É um sentimento de alívio e vitória”, completa.
Indignação
A indignação com a falta de cuidado com os protocolos sanitários também afeta os profissionais da linha de frente. É o que relata a médica Tatiana Nobrega. “Ano passado a gente não teve tanta lotação como hoje. Por exemplo, no hospital em que eu trabalho, só tem um leito de UTI disponível. Tá sendo muito complicado porque estamos cansados psicologicamente e fisicamente. Nós também temos família e infelizmente a população não está entendendo. Todos os dias temos que nos levantar, pedir proteção a Deus e enfrentar mais uma batalha. Vivemos uma guerra bem visível e uma parte da população não quer entender. Não é à toa que houve um fechamento nessa semana de um forró clandestino na Praia de Iracema”, declara.
Tatiana continua: “Tem paciente que chega da UPA para rede hospitalar com o pulmão comprometido, a gente vai para o plantão, começa o tratamento desse paciente, no outro plantão esse paciente já veio a óbito, e isso nos deixa muito abalados porque não conseguimos salvar todas as vidas que tentamos.”
Superação
O medo da contaminação, o isolamento e o desgaste chegam até para aquelas que não estão diretamente na linha de frente. Como é o caso da fisioterapeuta Juliana Lima, que atende pacientes em recuperação da doença. “Estamos na mistura de dois sentimentos: medo e ‘bola para frente’. A gente não quer e nem deve parar de atender as pessoas que precisam. Se estou com saúde, penso em trabalhar até meu limite. Tomamos todos os cuidados, tenho filhos e minha mãe que é idosa e mora comigo. Então, no início estava muito preocupada com a contaminação, fiquei isolada, e isso me abalou muito emocionalmente. Tava trabalhando, mas longe de casa. Hoje com essa nova onda, estou em casa, mas redobrando os cuidados. Percebo que estou mais fortalecida emocionalmente”, explica.
(Jornal o Estado Ce)