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2020
BRASIL – AMOR: Avó costura traje de proteção para abraçar neto após mais de dois meses sem contato presencial
Os momentos compartilhados entre o pequeno Daniel, 7 anos, e a avó Socorro Rebelo, 60 anos, eram marcados por diversão e companheirismo. Durante as tardes, havia a pausa para o café; o almoço era tempo de cozinhar purê de abóbora, comida preferida do neto, e, em qualquer tempo livre, sempre tinha espaço para leituras em voz alta. Com a pandemia, toda a proximidade e a troca de afetos precisou ser suspensa devido ao risco de contaminação da doença.
Em junho, Socorro costurou a possibilidade de reencontro entre eles. Após mais de dois meses sem ter contato presencial com o único neto, surgiu a ideia de confeccionar um traje de proteção para a criança. Produzir o macacão verde amarelo, similar a uma fantasia de palhaço, foi a maneira encontrada pela avó de encontrar o neto com segurança. A roupa protegia o corpo todo da criança, dos pulsos aos tornozelos, enquanto o “capacete”, cobria o rosto e evitava a troca de contato direto com o ar.
A escritora, sobrevivente de um câncer de mama, em 2017, e de duas pneumonias no ano passado, tentava estar segura apesar de se enquadrar no grupo de risco.
“No São João, eu tinha feito um macacão de palhaço para ele. Já tinha um short e uma camiseta aqui em casa como modelo. Então, cortei, falei com o meu filho e pedi para ele vestir o Daniel com a roupinha”, explica. Quando o reencontro aconteceu, Socorro não conseguiu conter a emoção.
“Foi a maior festa. Eu fiquei tão feliz. Ele é apaixonado aqui por casa. Ficava perguntando sempre quando ia poder vir aqui novamente”, compartilha.
Segundo a mãe de Daniel, Renata Caldas, 33 anos, o filho sempre foi muito apegado aos avós. Quando explicou que ele não poderia mais visitar os familiares como antes, devido ao coronavírus, a criança ficou muito triste.
Parceria
Socorro nunca foi avó de fazer todas as vontades. Para ela, é importante estimular o crescimento, a força e a sabedoria da criança. Dentro de sua casa, os livros são os únicos presentes possíveis de serem dados fora de época. Escritora, sempre buscou compartilhar essa paixão com o neto.
“Eu não sei se é por ser tão exigente, mas ele gosta de estar ao meu lado, é apaixonado por mim. Durante essa pandemia ele sempre diz que quer vir me ver”, comenta a avó. Com a distância, a suspensão dos carinhos foi ainda mais difícil de lidar do que o medo, segundo a escritora.
“Nosso café da tarde era imprescindível. Ele é apaixonado por café. Vinha e dormia aqui comigo. O afastar dele foi mais complicado do que qualquer um do outro. Ele perguntava sempre quando o coronavírus ia embora”, acrescenta Socorro.
Após a confecção do traje e o acalento do abraço, a perspectiva de estar próximo, tomando café juntos, abraçados e rindo um com o outro, a anima.
Fonte: Diário do Nordeste