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2018
BRASIL – POLÊMICA: Revista Veja diz que Ciro Gomes sabia de esquema de propina envolvendo Cid no Ceará.
O presidenciável Ciro Gomes (PDT) também fez parte de esquema de corrupção no Ceará envolvendo o irmão Cid Gomes (PDT) e aliados: é o que diz reportagem da revista Veja que começou chegar às bancas na última sexta-feira (31). A publicação traz entrevista com o ex-tesoureiro do Pros, Niomar Calazans, que acusa os irmãos de comprarem por R$ 2 milhões o controle do partido no Estado e operar esquema de extorsão contra empresários. Ciro nega as acusações.
O esquema de corrupção apontado na reportagem já é conhecido no Ceará. Trata-se da delação premiada do empresário Wesley Batista na qual confessa que a JBS fez transferências de doações de campanha para aliados de Cid e Ciro em 2014 em troca de créditos do governo para empresas que atuavam no Ceará. Os valores da propina chegariam a R$ 20 milhões.
Relatório no Tribunal de Contas do Estado (TCE), em 2015, já havia apontado a fraude na concessão de benefícios envolvendo outras empresas.
A novidade é que o ex-tesoureiro do Pros, Niomar Calazans, relatou o funcionamento do esquema quando os irmãos Cid e Ciro se filiaram ao partido entre 2013 e 2015. Ele confirma a história de Wesley Batista e diz que o pagamento de propina em troca de crédito aconteceu e era de conhecimento de nomes importantes na política local.
Segundo Calazans, sabiam e participavam do esquema o ex-secretário da Casa Civil e atual secretário do Turismo, Arialdo Pinho; o deputado federal Antonio Balhmann, o chefe de gabinete do governo Cid, Danilo Serpa, e o presidente do Pros, Eurípedes Júnior, além de “todos os aliados deles que usaram o dinheiro na campanha”.
“No Ceará, um não faz nada sem o outro. Cid Gomes era governador por indicação do Ciro. Quando um está em um partido, o outro também está. Trabalham em conjunto”, disse Calazans. Ele afirma que não tem prova material das acusações, mas tratou de negociações com Ciro. Diz ainda que o dinheiro destinado ao Ceará era tratado pelo próprio candidato a presidente.
Venda do Pros
O ex-tesoureiro também acusa os irmãos de terem pago R$ 2 milhões pelo comando do Pros no Ceará. Na época em que estiveram no partido, a presidência foi dada a Danilo Serpa. “Quem quisesse ter o controle local da sigla precisava pagar”, afirma.
A revista aponta ainda que a empresa do atual marqueteiro de campanha de Ciro, Manoel Canabarro, foi usada como laranja para ocultar propirna da JBS. O governador Camilo Santana (PT), candidato à reeleição, é incluído como beneficiário da propina da JBS, com R$ 3 milhões para sua campanha em 2014. Candidatos a deputados federais e estaduais também teriam sido beneficiados em um montante de R$ 6,2 milhões.
Investigações
Por determinação da Justiça, a Polícia Federal abriu inquérito para averiguar pagamento de propina em 2010. Segundo a Veja, no dia 24 de agosto, o procurador Luiz Carlos Oliveira Júnior requereu a abertura de outra investigação para apurar as denúncias de 2014. São alvos Cid, Arialdo e Balhmann.
À revista, Arialdo disse que deve se pronunciar apenas na Justiça. Balhmann confirmou o pedido de dinheiro à JBS, mas disse que foi tudo dentro da lei. Canabarro não quis comentar o caso.
Esquema de propina
A reportagem fez um cruzamento de dados entre valores doados por empresas e dinheiro público recebido por elas em época de campanha. As suspeitas sobre as transações já haviam sido levantadas pela conselheira do TCE, Soraia Victor, em 2015.
No relatório, a conselheira aponta que, em 2014, a concessão de empréstimo para o programa Gestão do FDI chegou a R$ 259.865.646,04 milhões. “Em torno de 250% maior que o empréstimo concedido pelo Estado no exercício anterior, no valor de R$ 74.629.341,98 milhões”, escreveu.
“Quando dei esse voto, sequer havia discussão sobre JBS. Me chamou atenção que no ano anterior (às eleições) pouco havia sido pago para o FDI e, especificamente no ano eleitoral, havia um repasse muito grande. Fiz a ligação com os grandes doadores de campanha e verifiquei que todos estavam ali”, disse ao Tribuna do Ceará, na última sexta-feira (24).
A maior parte dos recursos, R$ 252 milhões, foi repassada a cinco empresas, conforme o voto da conselheira. Dentre elas, a Cascavel Couros LTDA que, em 2013, recebeu R$ 12 milhões, mas, no ano seguinte, deteve o maior montante, R$ 97 milhões. Outras empresas beneficiadas foram Grendene e Paquetá Calçados, duas grandes doadoras da campanha de Camilo Santana em 2014.
A conselheira lamenta que, desde a época, não houve resposta aos apontamentos nem novos processos sobre o caso.
Resposta
Em resposta, Ciro Gomes divulgou nota afirmando nunca ter se envolvido “em qualquer tipo de corrupção, ilegalidade ou imoralidade ao longo dos meus 38 anos de vida pública. Nunca respondi nem respondo por nenhuma acusação moral, nem jamais tive meu nome envolvido em qualquer escândalo”. O presidenciável acrescentou que “Cid é honrado e nunca se envolveu em nenhuma imoralidade, ilegalidade ou corrupção”.
Ciro declarou também que processará criminalmente a revista e o entrevistado. “Estão mentindo a serviço de interesses clandestinos, os quais irei descobrir”.
Fonte: Tribuna do Ceará.