7
2017
CEARÁ – OPINIÃO: Cid acusa perseguição política após ter obra embargada pelo Ibama – A questão, porém, é outra.
As obras do empreendimento imobiliário ligado ao ex-governador Cid Gomes, na Serra da Meruoca, foram embargadas pelo Ibama e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), sob a acusação de irregularidades ambientais. Cabe recurso.
Em nota, a assessoria de Cid nega qualquer irregularidade e afirma que a ação é arbitrária, fruto de perseguição política do deputado federal Moses Rodrigues e o senador Eunício Oliveira, ambos do PMDB. E que o ex-governador acionará a Justiça.
Bom, se tudo está em conformidade com a legislação, não há com o que se preocupar, não é verdade? Basta apresentar as devidas autorizações e pronto. Na verdade esse problema surgiu após o caso ganhar repercussão por outro motivo: a sociedade entre o ex-governador e o dono de uma empresa que cresceu prestando serviços para sua gestão.
O leitor pode indagar: “Qual o problema? Os dois são adultos e Cid hoje não tem cargo público”. De fato, a princípio não existe ilegalidade, mas os inconvenientes são constrangedores. Descontadas as delações premiadas, é como se Lula virasse sócio de Marcelo Odebrecht ou Michel Temer abrisse uma empresa com Joesley Batista. Ainda que não existisse a Lava jato, não pegaria bem, pois a separação entre negócios privados e atuação política precisa estar acima de qualquer suspeita.
Gianfranco Pasquino, no Dicionário de Política, define o verbete Corrupção como “o fenômeno pelo qual um funcionário público é levado a agir de modo diverso dos padrões normativos do sistema, favorecendo interesses particulares em troca de recompensa“.
Nada no empreendimento embargado na Serra da Meruoca indica, objetivamente, corrupção enquanto crime tipificado. Não existe nem sequer acusação nesse sentido. Porém, ainda que tudo seja perfeitamente legal, o fato de um ex-governador virar sócio de empresa que lucrou durante sua gestão parece recompensa, ainda que não seja. E na política, ao contrário da seara jurídica, a dúvida não é benefício, é desgaste.
(Da Coluna do Wanderley Filho/Tribuna do Ceará.)