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2017
CEARÁ – OPINIÃO| Eleições 2018: Quem dá as cartas na política cearense
Eunício Oliveira (PMDB) é eleito presidente do Senado, Cabo Sabino (PR) é o novo coordenador da bancada cearense na Câmara dos Deputados, PSD e PMD oficializam bloco de oposição ao Governo do Estado na Assembleia Legislativa.
No polo oposto, o DEM passa a compor base de Camilo Santana (PT), o tucano Maia Júnior toma posse como secretário estadual e as especulações de que o governador vai deixar o PT se fortalecem – tudo em menos de dez dias. Os últimos acontecimentos políticos locais são decisivos para as eleições de 2018.
Mesmo com as cartas na mesa, o jogo está longe de ser definido, e as próprias lideranças locais têm evitado falar diretamente sobre o pleito. O argumento de que o período ainda está distante e a prioridade do momento “é fazer uma boa gestão” vão de encontro aos rearranjos de forças empregados, numa disputa que parece já ter começado.
Especialistas ouvidos pelo O POVO destacam a polarização entre grupos de Eunício e de Camilo. Para eles, mudanças implementadas pelo governador no secretariado e comando do peemedebista no Senado foram os movimentos mais importantes para entender o cenário. Eles discordam, porém, sobre a viabilidade de Eunício ser candidato ao Governo.
“O Eunício no Senado vai ter um papel importante nacional e agregar para a disputa ao governo local se a Lava Jato não der uma rasteira nele no meio do caminho. Eu acho que ele deve indicar alguém para concorrer ou só poderá vencer numa boa surpresa de marketing”, avalia o cientista político e professor da Universidade Federal do Ceará (UFC), Josênio Parente.
Já a socióloga do Laboratório de Estudos de Política, Eleições e Mídia da UFC, Paula Vieira, vê “grandes chances de Eunício ganhar”. De acordo com ela, “se 2018 fosse hoje, o quadro estaria mais favorável para Eunício. Todo o cenário está favorável para o PMDB”. Ela minimiza, inclusive, a ação da operação comandada pelo juiz Sergio Moro. “Hoje, as delações não estão influenciando em nada as articulações nacionais dos partidos”, afirma.
Candidatura de Camilo à reeleição, entretanto, é consenso. Eles destacam a aproximação do governador com partidos que tradicionalmente faziam oposição ao PT, como PSDB e DEM, legenda de Moroni Torgan, vice do prefeito Roberto Cláudio (PDT). Os dois não descartam saída de Camilo do PT.
“Camilo nunca teve uma identidade forte com o PT. O PT era só uma legenda a que ele estava vinculado para disputar um cargo. Ele sempre foi do grupo dos Ferreira Gomes, essa é a identidade dele”, explicou Paula.
O motivo da migração, segundo ela, seria o desgaste atual do partido e até a possibilidade de um “racha pontual” entre ele e o PDT por causa da disputa à presidência.
Camilo tem evitado falar sobre o assunto, argumentando que está se preocupando em “administrar o Ceará”. Secretário da Casa Civil, Nelson Martins reiterou posição do governador e defendeu que todas as mudanças foram feitas “com a preocupação de fazer um bom governo. Eleição só deve ser tratada no próximo ano”, disse.
Oposição
Outra possibilidade para a disputa ao Governo, Capitão Wagner (PR) vem buscando consolidar seu capital político para além dos resultados eleitorais. Novo líder da oposição na Assembleia Legislativa, ele deve fortalecer seu nome entre os deputados cearenses com ajuda de Sabino, que, agora, coordena a bancada.
“Fortalece o grupo da oposição, mas é cedo para dizer que, com isso, seremos beneficiados em 2018”, respondeu Wagner sobre a aliança com Eunício e Cabo Sabino. “Mas é claro que se eles fizerem um bom trabalho, acaba ajudando o grupo a mostrar que tem capacidade”, admitiu. O nome do PR disse ser “muito cedo” para garantir que disputará o cargo.
“Nosso grupo foi somado com o PSD e o PMB, que têm grandes nomes, então isso terá de ser discutido. Nosso grupo tem maturidade para discutir isso sem causar um racha”, avaliou. O tom é o mesmo de Eunício, que afirmou que “é natural que a oposição no Estado se mantenha organizada em 2018”.
ENTENDA O JOGO
O JOGO:
Briga de forças para a conquista de funções políticas importantes em 2018. A meta principal é alcançar o trono do Governo do Estado, mas as cartadas locais também influenciam na disputa para o Senado e a presidência da República.
REGRAS:
Lideranças políticas cearenses – ex, antigos e novos aliados – já começam a se articular e a serem alçadas a cargos nas casas legislativas e no Governo para acumular capital político e se antecipar à disputa do próximo ano.
Eunício Oliveira
PRESIDENTE DO SENADO
FORÇA POLÍTICA
Aliado próximo do presidente Michel Temer (PMDB)
FRAQUEZA
Citado na delação de um dos executivos da Odebrecht
CARTADA: Primeiro projeto apresentado como presidente do Senado, que impede o fim do TCM, é fruto de disputa entre os Ferreira Gomes e Domingos Filho. Cargo vai permitir que ele priorize questões locais e ganhe força no Estado.
Cid Gomes – EX-GOVERNADOR
FORÇA POLÍTICA
Líder do grupo que comanda o Governo do Estado e Prefeitura
FRAQUEZA
Legado questionável, com obras inacabadas, como o Acquario
CARTADA: Imprevisibilidade. Mesmo sem deixar claro se pretende disputar cargo eletivo no próximo ano, mantém liderança política que garantiria candidatura ao Senado ou mesmo ao Governo do Estado.
Roberto Cláudio- PREFEITO DE FORTALEZA
FORÇA POLÍTICA
É aliado dos Ferreira Gomes e tem base forte na Câmara Municipal
FRAQUEZA
Não conseguiu se reeleger com tranquilidade em 2016
CARTADA: A escolha de Moroni Torgan (DEM) como vice-prefeito possibilitou aumento da base de Camilo na Assembleia Legislativa e o fortalecimento da candidatura dele à reeleição
Camilo Santana – GOVERNADOR DO CEARÁ
FORÇA POLÍTICA
Base forte na AL-CE e aliança com os Ferreira Gomes
FRAQUEZA
Dependência política de Ciro e Cid Gomes
CARTADA: Camilo se articula para deixar o PT, sigla que vem perdendo força desde o impeachment, e se aproxima de antigas legendas de oposição, como o DEM, que agora integra base do governador, e o PSDB, que ocupa uma secretaria.
Capitão Wagner – LÍDER DA OPOSIÇÃO NA AL-CE
FORÇA POLÍTICA
Vereador e deputado estadual mais bem votado do Ceará
FRAQUEZA
Aproximação forte com Polícia Militar e Eunício Oliveira
CARTADA: Vem trabalhando para fortalecer seu nome para o Governo do Estado. Tem como aliado o deputado federal Cabo Sabino (PR), novo líder da bancada cearense na Câmara dos Deputados, e Eunício Oliveira (PMDB), presidente do Senado.
Tasso Jereissati – SENADOR
FORÇA POLÍTICA
Ex-governador e principal líder tucano no Ceará
FRAQUEZA
Vem perdendo força e já fala em não disputar mais cargo eletivo
CARTADA: É cotado para presidência da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, uma das principais da Casa. Compõe principal grupo de oposição ao Governo do Estado, que ameaça reeleição de Camilo Santana.
Ciro Gomes – EX-MINISTRO E EX-GOVERNADOR
FORÇA POLÍTICA
Projeção nacional e composição de forte grupo político.
FRAQUEZA
Temperamento explosivo e histórico de declarações controversas.
CARTADA: Vem se articulando para garantir uma candidatura à presidência da República e hegemonia no Estado, por meio de aliança com Camilo Santana. Adota tom mais agressivo com PT, sigla que não sinaliza apoio à sua candidatura.
Domingos Filho – PRESIDENTE DO TCM
FORÇA POLÍTICA
Comanda o Tribunal de Contas dos Municípios (TCM-CE)
FRAQUEZA
Preside um órgão que sobrevive por liminar da Justiça.
CARTADA: Após rachar com os Ferreira Gomes, aproximou-se de Eunício Oliveira e garantiu PEC no Senado para impedir fim do TCM. Além disso, influenciou, mesmo que indiretamente,o ingresso de PSD e PMB na bancada da oposição na Assembleia.
Fonte: O POVO/Letícia Alves.