CEARÁ – FALÊNCIA: Crise fecha 200 empresas de logística no CE, em dois anos

Nos momentos em que as crises econômicas se instalam no Brasil, a cadeia produtiva mostra, rapidamente, os reflexos do cenário desfavorável, como queda nas vendas e produção. Além de comércio e indústria – e demais setores na sequência – um dos primeiros a sentir o impacto negativo é exatamente o setor logístico, de extrema importância para o País, já que está diretamente ligado ao movimento indústria-comércio, funcionando como termômetro e estando na ponta da corda.

Segundo o Sindicato das Empresas de Transportes de Cargas e Logística do Ceará (Setcarce), nesses dois anos de recessão econômica (2015 e 2016), o segmento no Ceará caiu severamente, já que, atualmente, 100 empresas de transporte de cargas estão em atividade no Estado – até 2014 eram cerca de 300.

O presidente do Setcarce, empresário Clovis Nogueira Bezerra, explicou a dinâmica do setor. “Imediatamente quando o comércio para de comprar, a indústria para de produzir, porque não vai ter para quem vender. Então, o nosso serviço começa a ser impactado, pois vem a diminuir o volume de cargas. Por isso, entramos primeiro na crise”, disse o dirigente. Contudo, contrabalanceando o movimento negativo, “o que nos dá um pouco de ânimo é que, também, somos os primeiros a sair da crise, porque, se a coisa muda, nesse minuto, a indústria passa a produzir, o comércio começa a comprar e, nós, automaticamente, a transportar. Nós vamos transportando imediatamente”, ponderou Clóvis.

Dificuldades
Ao falar sobre fechamentos de empresas no Ceará, o presidente do Setcarce apontou dois movimentos diferenciados. Em um primeiro momento, houveram empresas que fecharam por completo e outras que diminuíram suas filiais nos estados, diminuindo seus raios de ação. Além disso, o outro movimento observado pelo dirigente está relacionado às fusões de empresas. “Por exemplo, tenho um serviço daqui para o Maranhão, porém não estou podendo operar lá – mas posso fazer o embarque aqui. Lá no desembarque, acerto com o companheiro de lá, e, aí, nós vamos dividir o serviço. Isso desativa meu contingente no Maranhão e fico só com o daqui. E, no Maranhão, fica o de lá e, quando ele manda pra mim, eu resolvo o (serviço) dele aqui”, explica Bezerra.

Segundo o dirigente, embora ruim, o cenário não está mais piorando, “mas ainda não melhorou”. Com um ambiente econômico desfavorável, outro desafio enfrentado pelo setor está ligado às demissões. “Estamos com muitos problemas com demissões, e o setor só não demitiu mais ainda porque não tem dinheiro para indenizar, porque, senão, o desemprego seria muito maior”, enfatizou Clóvis. Hoje, o setor abrange 10 mil empregos diretos no Ceará.
Em tempo de pagamentos extras, como 13º salário, o dirigente evidenciou “um problema muito sério”. “Se a gente faz, até mesmo, um acordo com o próprio funcionário, ninguém sabe como será. O sindicato dos trabalhadores, dentro das empresas – mesmo o funcionário concordando em fazer o acordo de recebimento parcelado – vai lá criar problema. Então, isso a gente precisa estar conversando com esse sindicato para que entendam o momento”, desabafou Bezerra.

Aprendizado
Apesar das dificuldades enfrentadas, o dirigente destaca que o momento ruim serviu para aprimorar a atuação das empresas. “Estamos com um aprendizado, por exemplo, sabendo aproveitar melhor o nosso contingente, o nosso equipamento e racionando ao máximo possível. Se as coisas voltassem tudo ao normal, a lição que tiramos é que (nessa hipótese) nós teríamos uma economia de 20%, de funcionários a equipamentos, porque aprendemos a usar melhor (nossos recursos)”, ponderou o empresário. Por fim, ele prevê que a retomada do crescimento setorial se dará a partir do próximo ano. “Acredito que as coisas devem melhorar bem, lá para 2018, mas, em 2017, teremos uma decolagem e começaremos a sair desse marasmo”, finalizou o dirigente.

Seminário discute desafios e oportunidades
As dificuldades enfrentadas pelo setor de transportes de cargas e logística serão abordadas na Expolog (Feira Nacional de Logística / 11º Seminário Internacional de Logística), que será realizada nos próximos dias 30 de novembro e 1º de dezembro, no Centro de Eventos do Ceará (CEC). Na oportunidade, serão debatidos, ainda, os principais assuntos que norteiam o setor logístico, como energias renováveis e a integração dos modais rodoviário, ferroviário, portuário e aeroviário, além das rodadas de negócios, através do espaço chamado Business Lounge – cujas inscrições variam de R$ 100,00 (1 dia) a R$ 150,00 (2 dias).

A Expolog reúne os principais players públicos e privados do segmento de logística e transporte terrestre, marítimo e aquaviário, sendo uma oportunidade de discutir, buscar alternativas para reduzir custos logísticos e oportunidade para a troca de experiências e network entre os principais nomes do setor. “Esse evento valoriza o Estado do Ceará, o Nordeste e, principalmente, essa área da logística, onde o público vai ter mais oportunidade de entender a relevância do nosso setor, que é altamente importante, essencial. Nós somos responsáveis pela normalidade do País e, para que tudo ocorra direitinho, tudo tem que estar afinado com essa logística e, por isso, fazemos o evento”, ressaltou o presidente do Setcarce, Clóvis Bezerra.

Segundo o Banco Mundial, em seu estudo que mede a eficiência dos sistemas de transporte em 160 países, o Brasil é apenas o 65º lugar no que se refere à infraestrutura de transporte. Além disso a logística é um dos principais entraves às atividades de comércio exterior do Estado do Ceará.