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2016
BRASIL – MUDANÇAS: PT decide acabar com eleição direta para presidente do partido.
SÃO PAULO – Depois de uma semana de discussões, o PT ratificou nesta sexta-feira, em São Paulo, a suspensão de seu processo de eleição direta (PED) para escolher o presidente nacional do partido. O congresso da legenda, em que delegados votarão para definir o novo comando, acontecerá nos dias 7, 8 e 9 de abril do ano que vem. O novo presidente do PT terá dois anos de mandato e não quatro como de costume.
Numa tentativa de desarmar setores do partido que ameaçavam uma debandada, o comando do partido decidiu que não haverá PED no ano que vem. Em tese, o processo de eleição direta volta a acontecer em 2019.
Pela proposta aprovada pelo diretório nacional por 52 votos a 27, os filiados do partido vão escolher os dirigentes municipais e os delegados que participarão dos congressos estaduais. Os congressos estaduais, por sua vez, escolherão os delegados do congresso nacional, que vai eleger o presidente da legenda.
A função principal do novo presidente será conduzir o partido nas eleições de 2018. Além de eleger a nova direção, o congresso de abril vai discutir a forma de funcionamento e a nova estratégia da legenda, após o impeachment da presidente Dilma Rousseff e a derrota nas eleições municipais deste ano.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva acompanhou as discussões e tentou, desde segunda-feira, costurar um acordo para evitar um racha no partido.
Sem chance de conquistar o comando da sigla por meio do PED, o movimento Muda PT, que reúne cinco correntes de esquerda do partido, defende, desde o ano passado, a escolha do presidente petista por meio de um congresso. O argumento é que as eleições diretas ocorrem sem discussão interna: o filiado simplesmente vai lá e vota. Outro argumento é que o processo é contaminado porque filiados são transportados por caciques partidários para votar.
Como o fim do PED passou a ser uma das principais bandeiras do Muda PT, Lula e seus aliados avaliaram que a manutenção do sistema de eleição direta poderia servir como justificativa para os integrantes do grupo deixarem o partido. Apesar de minoritário dentro do diretório nacional, o Muda PT reúne cerca de 35 dos 58 deputados da legenda. Desde a derrota nas eleições municipais, é levantada a possibilidade de parte desses parlamentares abandonarem a legenda.
Por causa disso, desde o início da semana, Lula fez reunião com todas as correntes. Seu objetivo era construir um acordo para unir o PT. O ex-presidente chegou a convencer a CNB, a corrente majoritária do partido, a abrir mão do PED, que sempre foi uma bandeira histórica do grupo. Mesmo em maioria no diretório, os integrantes da CNB cederam com a condição de que os delegados que participariam desse congresso fossem eleitos por votação direta nos municípios.
O Muda PT não concordou com essa proposta da CNB e bateu o pé para acabar com qualquer tipo de eleição direta. No congresso, a votação só corre depois dos debates. Por causa dessa divergência, na quinta-feira, primeiro dia de reunião do diretório nacional, houve tensão.
Lula e o presidente do PT, Rui Falcão, ainda construíram uma outra proposta intermediária, em que a votação nos municípios escolheria representantes de congressos estaduais, que depois elegeriam os delegados congresso nacional. Era mais uma tentativa de atender ao Muda PT. Mas o movimento não aceitou.
Na quinta-feira, o secretário-geral do PT, Romênio Pereira, da corrente Movimento PT, aliada da CNB, chegou a dizer que os integrantes do Muda PT estavam intransigentes porque queriam um motivo para abandonar o partido:
Lula também fez um apelo pelo fim das discussões e pelo entendimento. O Muda PT insistiu e nesta sexta-feira, sem chance de acordo, a questão foi decidida no voto. Por 52 a 27, a proposta do Muda PT de acabar com todos os tipos de eleição direta no PT foi reprovada.
O modelo de eleição direta foi aprovado em 1999, no 2º Congresso do partido, comandado pelo ex-ministro José Dirceu, na época presidente nacional do PT.
Fonte: O GLOBO.