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2016
SOBRAL – BRASÍLIA: Deputado deixa o PPS e emite Carta ao Povo cearense.
Meus amigos e correligionários de partido,
Dirijo-me a vocês sempre com o mais profundo respeito, como tenho pautado todos os atos da minha vida política. Quando tomei a decisão de filiar-me ao Partido Popular Socialista (PPS), estava munido da certeza de que os princípios e valores que sempre defendi, se coadunam com aqueles defendidos pelo partido.
Hoje, o absolutismo de nossas posições mostra uma coerência de pensamentos que são realmente louváveis. Com a ajuda deste partido e, principalmente do povo do meu amado Estado do Ceará, recebi o privilégio de representar aos mesmos no Congresso Nacional, na condição de Deputado Federal, sendo, inclusive, um dos mais votados no Ceará.
Diante deste árduo, porém, entusiasmante dever, mantivemos nossas posições oposicionistas ao governo que se instalou no Brasil, não da política do “quanto pior, melhor”, mas aquela política propositiva, de quem realmente está interessado na melhoria da condição de vida do povo brasileiro de forma geral e do cearense de forma especial.
Mas, como educador por formação acadêmica, jamais poderia desprezar a lição que nos foi deixada pelo grande pensador da educação, Paulo Freire, quando ele nos dizia, com suas palavras sempre muito sábias, que se você quer mudar o mundo, inicie pelo chão que pisa.
Por isso que, embora parlamentar do Brasil profundamente preocupado com os destinos de nossa nação e com a crise que vivemos, preciso, antes de tudo, honrar o voto de confiança do povo cearense, que depositou em mim parte de seus sonhos, desejos, anseios e projetos, ou seja, preciso lutar pela terra onde vivemos. Esta terra também vem sofrendo com as mazelas e os problemas que são oriundos da grave crise em que nos encontramos.
Todavia, em nosso querido Ceará, meus ideais que estavam tão intrinsecamente ligados aos do PPS no âmbito nacional, findaram por, com a devida vênia, divergir do partido no que diz respeito às relações políticas a nível estadual, porém, ratifico, que respeito as diretrizes políticas do partido.
Por entender que é preciso cuidar do todo, mas jamais esquecer as partes, pelo contrário, estas partes devem ser cuidadas com profundo carinho, é que tinha duas decisões a tomar: ou causava uma ruptura dentro do PPS, por não concordar, embora respeite, com a postura do partido na política local, ou deveria procurar um novo caminho a seguir, sem ferir os princípios do partido no âmbito nacional e, primordialmente, sem ferir os princípios que mantenho tão zelosamente com toda a minha convicção.
Portanto entre o dividir, que poderia enfraquecer o partido em um momento em que precisamos nos fortalecer, e o de permitir que o partido prossiga seu rumo, mas sabendo que estes rumos, no Estado do Ceará, não são de minha concordância, é que opto por esta saída diplomática e urbana da desfiliação.
Deixo o partido, mas faço questão de registrar meus sinceros agradecimentos pela contribuição de todos, pois juntos fomos os primeiros a prever a necessidade jurídica e política da saída de Eduardo Cunha da presidência da Câmara e, com essa convicção, assinamos ainda em outubro de 2015, o pedido de afastamento do presidente da Câmara. Caso isso já tivesse acontecido, o processo de impeachment teria maior credibilidade política, pois a casa não estaria sendo presidida por um acusado na operação lava-jato. Juntos lutamos a favor dos direitos dos pensionistas e aposentados, das empregadas domésticas, dentre outras lutas que travamos com o objetivo de uma sociedade mais justa.
Hoje retorno ao Partido da Mobilização Democrática Brasileira (PMDB), berço que outrora já foi meu e que agora me acolhe novamente, meu primeiro e único partido anterior ao PPS. Mesmo consciente das dicotomias ideológicas existentes no PMDB em âmbito nacional, ocasionadas em virtude do seu tamanho, isto é, pela quantidade de parlamentares que compõem o partido, representando as mais diversas vertentes.
Todavia, com a firmeza das minhas ideologias lutarei, juntamente com outros companheiros do PMDB que têm a mesma linha ideológica, pela profunda investigação da corrupção que permeia, atualmente, diversos atores políticos. No entanto, vale ressaltar, que a régua judicial que mede os escândalos da Petrobrás, tem que servir para julgar e, se necessário, condenar, seja a Presidência da República, a Presidência da Câmara, ou qualquer outro que esteja envolvido em escândalos de desvios de recursos. Assim, como é o momento de lutar em apoio às investigações.
Retorno ao PMDB com o intuito de resgatar a política orgânica e filosófica de Ulisses Guimarães, de Tancredo Neves, de Itamar Franco, do meu conterrâneo Antônio Félix Ibiapina Filho e de tantos outros que lutaram tão corajosamente contra a Ditadura Militar no Brasil; pelo direito das pessoas poderem participar do processo democrático através do Movimento das Diretas Já; pela promulgação da Constituição Cidadã; em apoio ao Movimento dos Caras Pintadas, onde o partido demonstrou uma grande proximidade com a juventude política consciente deste país, fato este que temos que trabalhar para resgatar e, enfim, pela consolidação da democracia brasileira e do Estado Democrático de Direito.
É no ombro da memória destes gigantes da política brasileira, que fundaram e consolidaram o PMDB, que me sustentarei para juntos construirmos um partido cada vez mais preparado para enfrentar os grandes desafios que se apresentam. Por esta razão, enquanto correr sangue em minhas veias, enquanto eu tiver forças para trabalhar e enquanto o povo cearense continuar a confiar em mim, lutarei para transformar esta terra num lugar melhor e mais digno de se viver.
Por fim gostaria muito de prosseguir contando com o apoio, carinho e consideração de todos os que compõem o PPS e estão, verdadeiramente, interessados e compromissados em um futuro melhor para todos, pois como disse Tancredo Neves, “O Brasil dos nossos dias, não admite nem o exclusivismo do governo, nem da oposição. Governo e oposição, acima de seus objetivos políticos, têm deveres inalienáveis com o nosso povo”.
Fraternal abraço e fiquemos com Deus.
Moses Rodrigues
Brasília, 18 de março de 2016