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2013
OPINIÃO – Hora de Dilma descer do pedestal e governar.(Por Vicente Nunes).
O tombo da popularidade da presidente Dilma, de 57% para 30%, como mostra o Instituto Datafolha não deve ser visto com surpresa. Era mais do que esperado. Uma análise rápida de seus dois anos e meio de mandato revela uma sucessão de erros políticos e, sobretudo, econômicos.
Dilma assumiu o governo com a imagem de ótima gestora, uma gerente capaz de manter a casa arrumada, uma técnica sem vícios políticos, uma pessoa comprometida com a ética. O marketing era perfeito, a ponto de a presidente ostentar os maiores índices de aprovação da história.
O tempo passou e essa imagem começou a se desmanchar. Como gestora, mostrou-se um desastre. Cercou-se de auxiliares incompetentes. Sua equipe econômica é a pior desde o início do governo Itamar Franco, em 1993, quando o ministro da Fazenda era trocado a cada três meses. Em vez de estimular os investimentos produtivos, o afastou ao assumir uma postura intervencionista na economia.
Pior: acreditou na ladainha de seus assessores, de que um pouquinho mais de inflação ajudaria o crescimento econômico. Errou feio. Ao ser leniente com a inflação, estimulando o consumo e o endividamento das famílias, ao mesmo tempo em que sancionava truques fiscais para esconder uma gastança desenfreada, destruiu a credibilidade do Banco Central ao submeter os rumos da política de juros aos desejos do Palácio do Planalto.
A inflação foi ganhando força lentamente, enquanto o crescimento da economia minguava. De um avanço de 2,7% em 2011, no primeiro ano de mandado, o PIB saltou apenas 0,9% em 2012. O poder de compra das famílias começou a se deteriorar, a ponto de, neste ano, os especialistas já verem incremento do PIB entre 1,5% de 1,9%, na melhor das hipóteses.
Neste quadro desolador, o medo do desemprego voltou com tudo, e a população já não acredita que o seu poder de compra será preservado. É o Datafolha que mostra: a avaliação positiva da gestão econômica do governo Dilma caiu de 49% para 27% em apenas três semanas. A expectativa de que a inflação vai aumentar continua em alta. Foi de 51% para 54%. E mais: para 44% dos entrevistados, o desemprego vai crescer. Na pesquisa anterior eram 36%. Para 38%, o poder de compra do salário vai cair. Antes, eram 27%.
Muitos vão dizer que a queda de 27 pontos na aprovação de Dilma pode ser recuperada. Tanto que Lula foi reeleito em 2006 mesmo com a sua popularidade tendo caído a 28% um ano antes por causa das denúncias do Mensalão.
Mas vamos aos fatos: na gestão Lula, a inflação estava sob controle e o crescimento da economia era acelerado. Portanto, a sensação de bem-estar da população era enorme. Em 2006, o IPCA foi de apenas 3,14% e o PIB avançou 4%. A política de distribuição de renda estava a todo vapor. As pessoas ainda estavam em processo de satisfazer necessidades básicas, comprando móveis, eletrodomésticos, carros e, em alguns casos, a casa própria.
Muitos pensavam: se Lula é corrupto, todos os outros políticos também são. Então, como a vida está boa, como a vida está melhorando, é melhor deixá-lo no poder do que substitui-lo por outro que pode pôr fim a todas as conquistas.
Com Dilma, isso não acontece e não vai acontecer. A inflação, como já avisou o Banco Central, vai continuar alta até 2015, pelo menos. O crescimento da economia permanecerá baixo. As taxas de juros vão subir mais, dificultando o acesso das famílias ao crédito. Muitas, inclusive, podem entrar na lista de inadimplentes, por incapacidade de honrar os compromissos em dia. Não há, portanto, a sensação de bem-estar que se tinha na era Lula. Pelo contrário, o medo é de se perder conquistas, como já demonstrou parte da população que está ocupando as ruas.
No campo político, Dilma se negou ao diálogo mesmo com os partidos que lhe dão sustentação no Congresso. Afastou-se dos movimentos sociais e sindicais. Isolou-se no Planalto, ouvindo um grupo restrito de assessores que só a induziram a erros. Em quase todas as decisões que ela tomou, teve de recuar, explicitando seu despreparo para o cargo.
Portanto, argumentos não faltam para a rejeição que começa a se cristalizar na população em relação ao governo Dilma.
Tomara que esse soco na cara seja suficiente para a presidente descer de seu pedestal, ouvir mais o que estão lhe dizendo as ruas e, sobretudo, promover mudanças em sua equipe. Se não fizer isso, é melhor ela ir se preparando para transferir a faixa presidencial em 2014, com o perigo de entregá-la a um aventureiro que surgir no quadro eleitoral, apresentando-se como o salvador da Pátria. Quem não se lembra do Caçador de Marajás de 1989?
Fonte: Blog do Vicente/Correio Braziliense