12
2013
Começa hoje o Conclave que escolherá o novo Papa.
A hierarquia da Igreja católica iniciará nesta terça-feira(12) o Conclave que elegerá o sucessor de Bento XVI, o primeiro Papa em sete séculos que renuncia ao seu posto, consciente do desafio histórico que o novo pontífice deverá encarar diante da grave crise atravessada pela milenar instituição.
À frente de uma Igreja atingida por escândalos e pela perda de credibilidade na sociedade moderna, 115 cardeais eleitores deverão escolher em um prazo relativamente curto o pontífice número 266 da história, enquanto seu antecessor de 85 anos ainda vive, alheio aos ruídos mundanos na residência papal de Castelgandolfo.
O solene rito da eleição será realizado na imponente Capela Sistina, um dos monumentos artísticos mais visitados do mundo, de onde sairá a famosa fumaça branca que anuncia ao mundo a eleição do Papa.
Os conclaves do último século duraram no máximo quatro dias, já que o ritmo de quatro votações por dia acelera o processo para identificar o favorito, explicou o porta-voz do Vaticano, o jesuíta Federico Lombardi.
Desafios da Igreja católica
Para iniciar uma nova era para a Igreja, marcada pela inédita renúncia de Bento XVI, que alegou falta de forças, mais de 150 cardeais abordaram por quase uma semana no Vaticano os temas mais espinhosos que afetam a entidade, de modo a poder definir o perfil do líder de 1,2 bilhão de católicos.
O novo Papa deverá combinar capacidades administrativas e organizacionais, manter as tradições e também ser poliglota, carismático, além de se comprometer a reformar a fundo a Cúria Romana, alvo de duras críticas após os escândalos do Vatileaks, que apresentou uma trama de abusos de poder, tráfico de influências e até sexo.
A Igreja também enfrenta uma onda de críticas internas que pedem reformas: mais democracia interna, modificar as regras do celibato dos sacerdotes e da ordenação de mulheres e que os divorciados que tenham voltado a se casar possam comungar.
A pressão da opinião pública e dos familiares das vítimas de abusos sexuais cometidos por padres obrigou inclusive o cardeal britânico Keith O’Brien a desistir de participar do conclave, depois de ter reconhecido que teve um comportamento sexual impróprio na década de 1980. Cerca de 12 cardeais, inclusive alguns da América Latina, foram acusados de terem acobertado tais crimes durante anos.
O casamento homossexual, a bioética, o aborto ou a eutanásia são valores considerados inegociáveis para a Igreja e é muito provável que o próximo Papa adote a tradicional linha de condenação.
Os papabilis
Sem um favorito claro, a lista de papabilis inclui europeus, italianos, sul-americanos, africanos e um filipino. Dos 115 “príncipes da Igreja” com direito a voto por terem menos de 80 anos, 60 são europeus (28 italianos), 19 latino-americanos, 14 norte-americanos, 11 africanos, 10 asiáticos e um australiano.
A lista de favoritos inclui o brasileiro Odilo Scherer, de 63 anos, arcebispo de São Paulo, a maior diocese da América Latina, considerado um conservador moderado com muito carisma, o que contaria com o apoio da Cúria Romana.
Também conta com o italiano Angelo Scola, arcebispo de Milão de 72 anos, ex-patriarca de Veneza, teólogo reconhecido, disposto a varrer todos os males e intrigas que atingem o governo central.
Outro papabile é o canadense Marc Ouellet, ex-arcebispo de Quebec de 67 anos, conhecido por seu rigor ao liderar uma das dioceses mais laicas de seu país, que preside a Pontifícia Comissão para a América Latina e é apreciado pelos países do sul, sobretudo pelos latino-americanos, onde residiu e conhece bem o idioma.
Desenvolvimento do conclave
Os 115 cardeais eleitores, provenientes de 51 países, se fecharão na Capela Sistina para eleger em segredo o novo pontífice, que deverá obter 77 votos.
A terça-feira começará com a grande missa “Pro eligendo Romano Pontifice” na basílica de São Pedro. Durante a tarde, os cardeais eleitores desfilarão da Capela Paulina à Capela Sistina cantando e orando para que o Espírito Santo os ilumine.
Já na Capela Sistina, sob os magníficos afrescos de Michelangelo e depois de terem jurado manter silêncio sob pena de excomunhão, o mestre de cerimônias pronunciará o “Extra omnes!” (“Fora todos”), ordenando que aqueles que não tiverem ligação com a eleição saiam da sala.
Os “príncipes da Igreja” não poderão se comunicar com o exterior, sem telefone ou computadores, e também não poderão enviar mensagens eletrônicas ou alimentar suas contas nas redes sociais.
O último ato do conclave é a pergunta que três cardeais fazem ao eleito: “Aceita sua eleição como Sumo Pontífice?”. Após a resposta afirmativa, segue outra pergunta, “Quo nomine vis vocari?” (“Como quer ser chamado?”).
Depois de ser parabenizado pelos cardeais, o sucessor do Papa alemão, que poderá escolher livremente seu nome, se dirigirá a uma pequena sala contígua onde o esperam três hábitos papais (de tamanhos pequeno, médio e grande) para se vestir. Costuma ser chamada de “Sala das Lágrimas”, já que parece que todos os eleitos, sem exceção, choram ali em relativa intimidade diante da magnitude da responsabilidade que acabam de assumir.
Em seguida, o novo Papa vai à sacada da basílica de São Pedro depois que o protodiácono pronunciar o famoso “Habemus papam!” e é apresentado à multidão reunida na praça de São Pedro e ao mundo através das câmeras de televisão de diversos países que seguem ao vivo o evento.