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3
2018

BRASIL – Por DANILO FORTE: Explosão de violência muda vida dos cearenses | Valor Econômico.

O avanço da violência nas últimas décadas mudou radicalmente a rotina e a paisagem de Fortaleza desde que o crime organizado começou a se espalhar pela região. Duas guerras estão atualmente em curso no Ceará e provocaram um repique da violência no Estado este ano. Ora os ataques criminosos se dão entre as facções que disputam a hegemonia no tráfico de drogas, ora são movidos por conflitos entre elas e o Estado. Este ano começou com um forte incremento dos crimes na capital. Dados da Secretaria de Segurança Pública (SSPDS) do Estado registrados até dia 31 mostram um aumento de 27,15% nos homicídios, latrocínios e lesões corporais seguidas de morte em relação ao mesmo período do ano passado: 1.241 pessoas foram assassinadas em 2018; no mesmo período, em 2017, foram 976.

Para se ter uma ideia da dimensão da criminalidade da capital cearense, em todo o ano passado, a cidade do Rio de Janeiro registrou 2.125 mortes violentas; só nos dois primeiros meses deste ano foram 367 assassinatos na capital fluminense. Ao quadro, somam-se ainda quatro chacinas com 35 mortos – em 2017 foram 23 óbitos em cinco chacinas -, e, no período de quatro dias, entre 24 e 27 de março, houve 21 ataques criminosos em Fortaleza e nas cidades de Sobral e Cascavel, com incêndios de ônibus e atentados contra prédios públicos. Nos dias seguintes aos disparos contra a sede da Secretaria de Justiça (Sejus), sete pessoas foram presas. Desde então, a cidade teve policiamento reforçado nos corredores de ônibus, há voos noturnos de helicópteros monitorando e o caso é investigado pela Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas e Inquéritos Especiais (Draco). Apesar disso, não houve mudança na correlação de forças.

Em Fortaleza, surgiu uma facção local, a Guardiões do Estado (GDE), nascida como dissidência do Primeiro Comando da Capital (PCC) e conhecida por táticas ainda mais agressivas que suas rivais do Sudeste. Como a GDE não possui poder centralizado, os integrantes agem conforme suas vontades. Nas ações, torturam, matam, filmam e colocam nas redes sociais. Outras três facções criminosas atuam no Estado: a fluminense Comando Vermelho (CV), a amazonense Família do Norte (FDN) e a paulista PCC. As quatro se dividiram em dois blocos: um reúne o CV e a FDN, o outro, o PCC e a GDE. Estão separadas por presídios, segundo relato de um oficial da secretaria de segurança. De acordo com esta fonte, como eles têm acesso a celulares, comandam o tráfico de dentro das muralhas. Em áreas da periferia como a comunidade Babilônia, no bairro do Barroso, moradores foram obrigados a abandonar suas casas, orientados por ameaças pichadas nos muros do bairro. “Sai fora todo mundo, senão vai morrer”, diziam as “instruções”. O aviso era da GDE, com objetivo de expulsar da área pessoas com qualquer ligação com o CV. Algumas famílias saíram no mesmo dia, desesperadas. As poucas que ficaram puderam presenciar a chegada da polícia no dia seguinte e a permanência dos homens da Polícia Militar (PM) na comunidade. Ainda assim, permaneceram trancados em suas casas por muitos dias e, até agora, dois meses depois, andam ainda receosos pelas ruas. A lembrança das ameaças de morte que recebeu ainda atormenta José da Silva (nome fictício) sempre que ele toma conhecimento de ocorrências como essas. Ele não sabe como estão os amigos deixados na comunidade Cidade de Deus, no Pio XII, na periferia da capital cearense. Ele morava há mais de dez anos na comunidade e já havia presenciado muitos assassinatos na rua. Em 2016, recebeu o “recado” de que seria o próximo da lista. Desesperado, conseguiu ainda vender sua casa, embora por um preço abaixo do valor, foi morar de aluguel com a esposa e os filhos em um lugar bem distante dali. Tão apressado estava que até os móveis ficaram na casa. “Manter a vida é mais importante”, diz. Ainda hoje não se sente seguro. A Cidade de Deus onde morava José da Silva foi uma das áreas em que famílias também foram expulsas de suas casas, em agosto do ano passado. Após uma série de homicídios de integrantes das facções e ameaças nessa comunidade e no Lagamar – as duas são vizinhas -, as famílias foram obrigadas a deixar os locais. Elas saíram escoltadas por policiais à paisana. A comunidade também foi ocupada pela PM desde então.

Conforme o secretário de Segurança Pública, André Costa, há dez áreas já ocupadas pelo Policiamento Ostensivo Geral (POG), o que provoca uma redução de homicídios e assaltos na capital cearense. Entretanto, avalia, esse é só o início de um processo. “Precisamos ainda trabalhar muito para não haver um recrudescimento da violência”. De acordo com o secretário, as expulsões de famílias têm diminuido. À medida que são identificadas recebem acompanhamento de órgãos do Estado e da Defensoria Pública. Costa não informou, entretanto, quantas famílias estão nessa situação. As facções criminosas começaram a agir no Ceará ainda na década de 90. O avanço mais incisivo, entretanto, teria sido a partir de 2010, quando a repressão no Rio e São Paulo forçaram as facções a migrar. Foi quando começaram a se fortalecer no Ceará. Inicialmente foi feito acordo para que não brigassem por territórios, período conhecido como “Pacificação das Periferias”, quando foi registrada a queda nos homicídios. Em 2015, o Ceará registrou 4.019 homicídios, queda de 9,5% em relação a 2014.

Em 2016, a redução foi maior, de 15,2% sobre 2015. No segundo semestre daquele ano, entretanto, o pacto seria quebrado, quando PCC e CV iniciaram uma guerra pelo controle das fronteiras do país, com reflexo no Ceará. As chacinas são o momento em que a guerra entre as facções se torna mais visível. Em Fortaleza, a mais recente foi em 9 de março, no bairro Benfica, quando sete jovens foram executados por uma quadrilha, em três pontos diferentes do bairro. Antes dela, na maior chacina da história do Ceará, 14 pessoas foram assassinadas em uma casa de forró no bairro Cajazeiras, em Fortaleza. Outras duas chacinas aconteceram nas cidades de Itapajé e Maranguape. Na primeira, dez homens morreram em uma rebelião na Cadeia Pública. E em Maranguape, quatro rapazes foram assassinados. Em todos os casos, a motivação foi a disputa pelo tráfico de drogas entre facções. Atualmente, em Fortaleza, as facções estão em, pelo menos, 20 dos 116 bairros da capital. Duas delas, a GDE e o CV travam guerra direta por território. Essa situação, acredita Cláudio Justa, presidente do Conselho Penitenciário do Estado do Ceará, é fruto do crescimento paulatino das facções no Estado, sem que o poder público se desse conta da extensão do problema. E, por isso, a política do governo estadual para a segurança pública, calcada na aproximação dos policiais com a comunidade e que aposta numa cultura de paz – o projeto Ceará Pacífico é o carro-chefe -, já teria nascido numa situação ultrapassada de violência. “Desde 2013, mudou o padrão dos homicídios no Estado”, diz Justa. Na época, observou-se o crescimento vertiginoso de homicídio de vítimas com antecedentes e associação para o tráfico, bem como a execução de jovens ligados às práticas de assalto. Esse padrão, comenta Justa, é bem diferenciado das vítimas do latrocínio. As ações, entretanto, eram atribuídas à possível existência de “grupos de extermínio”. Costa, titular da Secretaria de Segurança Pública, garante jamais ter negado a presença das facções no Ceará. O que sempre negou foi a possibilidade de a redução dos homicídios de 2016 ter sido decorrente de pacificação entre as facções. Ele entende não ter havido “paz” entre os criminosos em momento algum, tanto que naquele ano, apesar da redução no número de mortes, foram quase 3.500 homicídios. Em 2017, afirma Costa, houve um acirramento dessa disputa que sempre existiu. Segundo ele, o Estado tem enfrentado o crime organizado, não tem recuado em suas decisões e impõe presença da polícia. Desde 2015, no Ceará, foram nomeados ou estão em formação cerca de 9 mil profissionais de segurança pública, entre policiais militares e civis, bombeiros militares, peritos forenses e agentes penitenciários, tendo sido promovidos 12.086 policiais.

Também nesse período, o governo Camilo Santana (PT) investiu R$ 149 milhões na área, com ações que vão desde a aquisição de coletes, armas, viaturas, construção de delegacias, à implantação da Coordenadoria Integrada de Operações Aéreas (Ciopaer), nas cidades de Juazeiro e Sobral (só havia em Fortaleza), e a implantação do Batalhão de Policiamento de Rondas e Ações Intensivas e Ostensivas (BPRaio) em 15 cidadessede, no interior. Especificamente para combater o tráfico foi criado o Batalhão de Divisas, com sedes em Penaforte e Limoeiro do Norte, para atuar em ocorrências relacionadas a ações contra bancos em localidades do interior e de fronteiras do Estado. Para o secretário de Segurança, o crescimento das facções não é fenômeno do Ceará, mas de todo o país. E se deve também à ausência de integração entre os Estados e a União. “A falta de um sistema único de segurança pública e, em especial, da inteligência, acabou por permitir o crescimento desses grupos criminosos pelo país.” O sistema prisional no Ceará está esgotado. A capacidade do Estado é para 14 mil presos. Abriga mais do que o dobro disso: 28.629 detentos. Desses, 14.403 são provisórios. Para atender a essa população carcerária, existem 2.300 agentes prisionais. A Sejus, por razões de segurança, prefere não comentar a organização de internos dentro das unidades prisionais. Disse que, neste mês, começa o curso de formação para mil novos agentes penitenciários aprovados em concurso feito no fim de 2017. A secretaria assume ser grande o número de presos provisórios. E adiantou que, no sentido de reduzir esse percentual, tem trabalhado junto ao Judiciário na busca por alternativas, como a realização de mutirões carcerários.

(Colaborou Ligia Guimarães, de São Paulo)

Fonte: O Valor

About the Author: Bené Fernandes

Radialista com mais de 25 anos de militância em Sobral(CE), e agora Jornalista Profissional, sob o Registro- 01657 MTb - datado de 23/12/2004. Trabalho atualmente na Rádio Paraíso FM-101,1 Mhz, onde apresento o Programa HORA DA NOTÍCIA - no horário de 11hs ás 13 horas. Nas tardes da Paraíso FM levo alegria de descontração no Programa FORRONEJO de 15hs ás 17 horas. Se ligue com a gente e venha curtir o melhor da informação e do entretenimento musical.

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